terça-feira, 12 de julho de 2016

As benévolas intenções e o penoso histórico

O Governo propõe-se recuperar, numa década, parte da área florestal nacional que o país perdeu, nas últimas três, com o dobro do financiamento público que agora se anuncia para essa recuperação.

De acordo com a FAO e o Eurostat, entre 1990 e 2015, num quarto de século, o país registou uma desflorestação superior a um quarto de milhão de hectares. Esta alteração de uso do solo, com forte expressão na transição de área de floresta para matos, corresponde em média a uma perda anual superior à da área do concelho de Lisboa (cerca de 10 mil hectares).

Neste último quarto de século, o esforço dos contribuintes, através dos fundos comunitários e nacionais de apoio às florestas, foi superior a 1.000 milhões de euros. As principais espécies florestais objeto de mais expressivo apoio público registaram uma contração em área superior a 300 mil hectares. Para a década, o Governo anunciou a intenção de recuperar 150 mil hectares de floresta, cerca de 59% da desflorestação registada desde 1990, com 500 milhões de euros de apoio público.

Enquanto isso, o rendimento na produção florestal tem registado quedas sistemáticas, sem que se vislumbrem quaisquer medidas para a sua recuperação. Em Portugal, 98,4% da área florestal não é pública. A esmagadora maioria encontra-se na posse de centenas de milhares de famílias. Se a produção florestal tem visto a sua atividade definhar (apesar da expansão das plantações de eucalipto), tal como acontece na indústria florestal (no seu conjunto), os contribuintes podem ter estado a financiar, mesmo que contra a sua vontade, outras áreas de negócio, as que têm prosperado com a atual situação de desflorestação.

É certo que o histórico de desflorestação pertence a governações anteriores, mas o anúncio da sua inversão é do atual Governo. Mas, merecerá credibilidade?


Para as boas intenções poderem contrariar um penoso histórico será necessário mais do que meros anúncios públicos de 21 de março. Até agora, nada permite concluir pela inversão do histórico, nem mesmo a anunciada reprogramação do PDR 2020 que, tal como os seus antecessores, corre o sério risco de perpetuar a situação de desflorestação.


Sem comentários:

Enviar um comentário