segunda-feira, 21 de março de 2016

DIA MUNDIAL DA FLORESTA 2016 - O que há a comemorar em Portugal?

O mês de março é tradicionalmente motivo de comemoração da primavera, das árvores e das florestas. Sobre estas últimas, a Acréscimo levanta vários conjuntos de questões sobre a sua situação em Portugal. O quarto conjunto respeita à comemoração do Dia Mundial das Florestas e da sua situação em Portugal.

O que há para comemorar a 21 de março?


os incumprimentoS à LEI DE BASES?

As suspeitas e os incumprimentos à Lei de Base da Política Florestal (Lei n.º 33/96, de 17 de agosto), aprovada há cerca de 20 anos, por unanimidade, pela Assembleia da República, são múltiplos. O poder executivo é o principal foco dessas suspeitas e dos incumprimentos.

Entre as várias situações em causa, destaca a expansão da área das plantações de eucalipto.

O aumento da área, sem o consequente aumento da produtividade, perspetiva uma violação ao disposto na Lei. Ora, sem que tenha ocorrido aumento na produtividade, talvez pelo contrário, o aumento da área de plantações de eucalipto, após a publicação da Lei, concretizou-se em quase 100 mil hectares, mais de 13% em 2010 face a 1995, segundo dados do Inventário Florestal Nacional (embora os dados oficiais apontem para 812 mil hectares de eucalipto em Portugal, documento da Semapa considerava, em 2006, essa área em 817 mil hectares).



a mais grave situação de DESFLORESTAÇÃO NA EUROPA?

Portugal perde em área de floresta, desde 1990 e em média, uma área similar à da sua capital, ou seja, perde em floresta uma cidade de Lisboa a cada ano que passa.


De acordo com os dados do mais recente Inventário Florestal Nacional, entre 1995 e 2010, a desflorestação contabiliza-se em mais de 150 mil hectares. Outra documentação oficial, publicada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, menciona uma desflorestação na ordem dos 250 mil hectares, ocorrida entre 1990 e 2015.


As causas, os efeitos e as consequências foram já apontados pela Acréscimo.


os desastrosos resultados dos APOIOS DA PAC?

Desde a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, foram anunciados para as florestas mais de mil milhões de euros de apoio público. Para o quadro 2014-2020 foram anunciados mais 540 milhões de euros.

Mas, qual tem sido o retorno desta aplicação financeira da Sociedade nas florestas em Portugal? Se avaliado este esforço em área, constata-se que nas três espécies que foram objeto de maior apoio público, a sua expressão em área no país contraiu. Dos cerca de 700 milhões de euros disponibilizados para investimento em pinheiro bravo, constata-se uma contração em área próxima dos 400 mil hectares. Só entre 1995 e 2010 são contabilizados menos 263 mil hectares de área total de pinhal bravo, menos 10 mil hectares em montado de sobro e menos 36 mil hectares em montado de azinho, estas duas últimas são espécies protegidas por lei.


As causas, os efeitos e as consequências foram já apontados pela Acréscimo.


OS CATASTRÓFICOS RISCOS ASSOCIADOS AO INVESTIMENTO NAS FLORESTAS?

Apesar de uma Lei de Bases, da existência de um emaranhado legislativo, da disponibilização de fundos públicos, o facto é que Portugal se destaca no sul da Europa e na bacia do Mediterrâneo por registos desastrosos, seja ao nível da proliferação de pragas e de doenças, seja na propagação dos incêndios.



Entre os cinco estados-membros do sul da Europa, face aos registos evidenciados por Espanha, França, Grécia e Itália, com uma superfície de apenas 6% do total, Portugal detém uma calamitosa posição cimeira no que respeita à área ardida.


A não haver mudança de paradigma, o aumento das temperaturas não augura um futuro de sustentabilidade para as florestas em Portugal.


O maior risco ocorre em investimentos nas duas principais espécies associadas à produção lenhosa, o eucalipto e o pinheiro bravo.



O funcionamento dos MERCADOS EM CONCORRÊNCIA IMPERFEITA?

O escoamento das produções nas três principais fileiras silvo-industriais, a assocada ao eucalipto, a do pinheiro bravo e a do sobreiro, está muito condicionado pela forte concentração ao nível da procura.

Por sua vez, a oferta está muito pulverizada, num país em que as florestas privadas e comunitárias representam mais de 98% da área florestal nacional.

A concentração na procura, sem regulação, tem contribuído para o declínio progressivo do rendimento silvícola, com um desastroso efeito ao nível da gestão florestal e suas consequências catastróficas no aumento dos riscos associados à atividade florestal.


Em floresta esmagadoramente privada, a ausência de negócio, por determinação unilateral de preços pela procura, permitida pelas governações, invisibiliza uma administração comercial e técnica dos espaços florestais. A opção por modelos de gestão minimalista e de abandono tem evidenciado consequências brutais na degradação progressiva do território.



A AUSÊNCIA DE sustentabilidade Nas EXPORTAÇÕES DE BASE FLORESTAL?

A ocorrência, em simultâneo, de uma situação de subaproveitamento e de sobre-exploração dos recursos florestais portugueses, apesar de renováveis, inviabiliza uma gestão sustentável.

Os elevados riscos associados ao investimento florestal, concretamente os decorrentes do funcionamento dos mercados em concorrência imperfeita, comprometem a reposição da capacidade produtiva nacional. Neste contexto, as atuais exportações comprometem o usufruto dos espaços florestais portugueses pelas futuras gerações. A perceção desta situação nos mercados externos, mais exigentes em compromissos ambientais, será uma questão de prazo.



A comemoração dos Dia Mundial da Floresta em Portugal é muito suscetível à hipocrisia.

Na Acréscimo optamos por uma mudança de paradigma, com uma aposta clara na regulação dos mercados, na investigação e na criação de um serviço de extensão florestal.

Sem rendimento silvícola, em floresta privada, não há gestão profissional, as consequências são conhecidas.


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