segunda-feira, 10 de março de 2014

Números e consequências (1)

Recentemente, o Grupo Portucel Soporcel, através de uma empresa de Comunicação, fez transparecer o seu peso na economia nacional. 

Em 2013, em referência a dados disponibilizados pelo INE, o grupo informa representar 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. O Grupo foi no ano transato o 2.º maior exportador nacional em valor bruto, com um peso de cerca de 3% das exportações nacionais de bens. O conjunto das fileiras silvo-industriais nacionais assegura cerca de 10% das exportações nacionais.

Atualmente, pouco mais de 3% das exportações nacionais, em valor bruto, em pasta celulósica e em papel, menos de 1/3 das exportações nacionais de base florestal, dispõem da 5.ª maior área de eucaliptal do mundo, ou seja, de uma área superior à existente na Austrália, região de origem da espécie, ficando abaixo da Índia (8.005 mil hectares), do Brasil (3.407 mil hectares), da China (1.134 mil hectares) e (talvez ainda) da Espanha (931 mil hectares, em 2006).

Tendo em conta os dados históricos do Inventário Florestal Nacional, a área nacional de eucalipto mais do que duplicou (110,4%) desde a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia. Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), só entre 1995 e 2010 esse aumento foi de 13%.


Apesar do aumento significativo em área nos últimos 30 anos, a produtividade média dos eucaliptais nacionais regista atualmente um valor já identificado em 1928.

Temos assim que a estratégia das empresas deste setor e do próprio País assenta numa aposta em quantidade (massificação em área), não em qualidade (produtividade por área).
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Mas, tem sido esta aposta do País coerente com o interesse nacional?

Curiosamente, enquanto se tem vindo a efetivar esta aposta, da produção em quantidade de rolaria para trituração pela indústria de pasta e papel, entre 1990 e 2010, o peso do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura no VAB nacional, de acordo também com os dados do INE – Contas Económicas da Silvicultura, registou um declínio progressivo de 67%. O seja, registou-se um decréscimo acentuado da economia florestal (atividade produtiva, comércio de madeiras e prestação de serviços á produção).

Só entre 2000 e 2010, agora ao nível das fileiras silvo-industriais, foi registado um declínio de 40% no peso do setor florestal ao nível do Produto Interno Bruto (este já de si em declínio na década em causa). Curiosamente, o decréscimo do peso no PIB foi muito mais acentuado ao nível da indústria, do que na silvicultura.

Também no emprego no setor, o declínio é evidente, sobretudo ao nível da indústria.


Grosso modo, sem aprofundar as relações de interdependência, cresce o peso do Grupo Portucel Soporcel na economia nacional, aumenta a área de eucaliptal em Portugal, decresce o peso económico e social da floresta portuguesa, bem como o peso do setor florestal português (floresta + indústrias de base florestal).




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