quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A estratégia empresarial do grupo Portucel Soporcel e a política florestal do Governo: serão uma e a mesma coisa?


1. Em maio último, o grupo Portucel Soporcel fez saber, através de notícia publicada num jornal diário, fazer depender de 40.000 hectares de eucaliptal a sua intenção de investir 2 mil milhões de euros, com a criação de 15.000 mil postos de trabalho. Na atual crise económica, qualquer notícia de investimento, mais ainda com a propagandeada criação de milhares de postos de trabalho, é como pão para a boca. Importa pois avaliar da condição para a concretização deste investimento, os 40 mil hectares de eucalipto.

2. Por sua vez, o Ministério da Agricultura, também do Ambiente, quase em simultâneo à demonstração de intenção do grupo empresarial, coloca para discussão pública uma proposta de alteração legislativa à regulamentação sobre a ações de arborização e rearborização com espécies de rápido crescimento, nas quais se incluem espécies florestais dos géneros Eucalyptus, Populus (choupos) e Acacia. A referida proposta visa essencialmente a alteração ao disposto no Decreto-lei n.º 175/88, de 17 de maio. Em causa está a dispensa de autorização prévia, pelo recém-criado Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), das ações de (re)florestação com estas espécies em regiões de minifúndio.

Será coincidência? Estatisticamente é muito difícil comprovar que existe uma relação causal entre duas variáveis pois correlação não significa necessariamente causalidade. É necessário realizar testes empíricos para chegar a uma conclusão de causa e efeito.



Comprovada ou não uma relação causal entre o anúncio, ou reivindicação, do grupo Portucel Soporcel e a iniciativa do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, há contudo questões que importa colocar:

Será que o País sai a ganhar com mais uma campanha de massificação agroflorestal, desta vez não com o trigo, como ocorreu a partir de 1938, não com o pinheiro bravo, como relata Aquilino Ribeiro no romance “Quando os Lobos Uivam” de 1958, ambas em período de Estado Novo, mas agora com uma espécie exótica?

Será que, perante a atual crise económica, a carência de emprego e a necessidade de aumentar o valor bruto das exportações, faz valer tudo? Existe uma efetiva análise custo/benefício? Para quem emprega atualmente cerca de 2.300 colaboradores, com unidades de produção de pasta celulósica e de papel, como consegue incorporar mais 15.000 novos postos de trabalho? Será mera propaganda?

Analisando as exportações pelo seu valor líquido, ou seja subtraindo ao seu valor bruto os custos da depreciação dos recursos naturais, sairá o País a ganhar com uma campanha do eucalipto?
  
Foram estudadas alternativas à satisfação das atuais ou futuras necessidades da indústria transformadora de pasta celulósica e do papel, que não passem pela massificação da cultura do eucalipto em minifúndio sem gestão florestal ativa?

Qual o impacto efetivo da campanha do eucalipto em Meio Rural? No emprego nas aldeias, vilas e cidades do Interior, na qualidade de vida dessas populações (o êxodo rural não se consegue estancar), no rendimento dos proprietários rurais (em declive progressivo, segundo o INE), nas empresas locais, e ao nível dos recursos naturais endógenos, na conservação dos solos, na qualidade e na quantidade de água, na biodiversidade, ou na propagação dos incêndios florestais?

Com certeza, o Ministério terá resposta a estas questões, já que, coincidentemente ou não, parece estar a providenciar os meios necessários a prossecução da estratégia empresarial do Grupo Portucel Soporcel.

Sem comentários:

Enviar um comentário